quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Pugna Legalis #2: Liberdade

 


Nessa aula, o professor falou sobre a liberdade no âmbito jurídico e constitucional.


Ele começa falando sobre Benjamin Constant, pensador do século XIX, em seu livro "Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos" (1819).


- A liberdade dos antigos: a ideia de que um indivíduo é livre quando pode atuar na esfera pública. A liberdade é estar na ágora. É ser livre para debater. É ser livre para participar do processo de tomada de decisão coletiva;

- A liberdade moderna: pode ser identificada como a autonomia individual, tendo a sua esfera privada livre de interferência. É uma ideia de intangibilidade individual, a sociedade e o Estado não interferem com a tomada de decisão de um indivíduo.


O professor define a ideia de liberdade como atuação pública como a cidadania republicana. Ela se contrapõe ao individualismo exacerbado. Além disso, fala a respeito das revoluções liberais que fizeram com que o Estado não regulasse arbitrariamente, mas sim que fizesse leis de acordo com o consentimento dos cidadãos. Em outras palavras, os cidadãos participavam, por meio de representantes eleitos, no processo de tomada de decisão coletiva.


Há também a definição de liberdade pública e liberdade privada.

 - Liberdade Pública: direitos associados à participação do indivíduo no debate público e na política, liberdade de reunião, liberdade de expressão e manifestação do indivíduo;

- Liberdade privada: o Estado deve proteger as escolhas existenciais do indivíduo. Em outras palavras, defender a autonomia existencial e proteger as escolhas individuais. O direito de escolher os projetos de vida, o direito de acreditar em diferentes cosmovisões. O direito à privacidade, a manifestação artística. O direito à identidade: poder afirmar quem é, da forma como é e não da forma com que a sociedade ou o Estado quer que a pessoa seja. Liberdade religiosa.


A defesa do autogoverno na esfera pública e na esfera privada.


Além disso, é apresentada a ideia de liberdade material de John Rawls. Isto é, fornecer as condições necessárias para o exercício da liberdade. Visto que quem carece padece de liberdade, logo as pessoas precisam de proteção para o exercício da sua liberdade. 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 1)


 
Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


O surgimento da chamada "New Right" (Nova Direita), ou direita religiosa ou conservadorismo social, foi marcado por uma série de acontecimentos. No geral, além do tradicionalismo moral, essa direita se opõe ao grande governo e a importância do Estado de bem-estar social.


Quando pensamos sobre a New Right, também pensamos em Ronald Reagan. E aqui cabe um aviso: Ronald Reagan, ao contrário da noção popular, não era um mero ator de filmes B. Ele tinha dupla formação em economia e sociologia. Tendo sido formado pela Eureka College. Além disso, há o fato dele ter atuado em cinquenta filmes. Ter sido, na primeira parte da vida, um democrata que apoiou Franklin Delano Roosevelt (FDR). O mesmo FDR que criou o New Deal e que aumentou bastante o tamanho do governo em suas áreas de atuação.


É fato conhecido que Ronald Reagan trabalhou para a GE (General Electric), onde tinha que ler conteúdo anticomuninista, anti-New Deal e revistas conservadoras influentes (como a National Review do William F. Buckley Jr.). As falas de Ronald Reagan refletiam as posições da GE: anti-regulação, anti-sindicato e anti-welfare (contra o Estado de bem-estar social). O que se tornou algo crescentemente político.


Naquele tempo, alguns setores conservadores se opunham ao FDR, o New Deal e o keynesianismo. Eles viam esse programa como corrompedor do capitalismo laissez-faire e da mão invisível do mercado. Eles opunham o Estado de bem-estar social com a caridade privada, a comunidade e a iniciativa individual. Além disso, viam que o New Deal refletia a centralização de poder dos países comunistas. Eles viam no Partido Republicano um espaço pró-mercado, para defender o governo pequeno, para propor pautas anti-regulação e para se opor ao Estado de bem-estar social.


Vamos ver um quadro mais geral dos Estados Unidos e da direita americana.


É evidente que nem todo republicano e nem todo conservador era assim. Por exemplo, Dwight D. Eisenhower — ex-presidente dos Estados Unidos — defendia o chamado "republicanismo moderno". Ele propôs a expansão do Estado de bem-estar social, investimento em infraestrutura, uma defesa cautelosa dos direitos civis, criou a NASA e conciliou os princípios conservadores com a aceitação prática do papel do governo federal nas necessidades sociais.


Um dos elementos a serem mencionados é o Barry Goldwater (escritor do livro The Conscience of a Conservative). Ele defendeu a privatização dos programas de segurança social, os programas populares do governo, o New Deal e disse que o movimento dos "Civil Rights" (direitos civis) deveriam ser matéria dos estados — Goldwater perderia para o sucessor de Kennedy, Lyndon B. Johnson (conhecido pela "Guerra à Pobreza"). No mesmo período, Nelson Rockefeller falou sobre o Partido Republicano estar sendo tomado por fanáticos.


Richard Nixon (Republicano), quando eleito defendeu leis de proteção ambiental, a criação de novas agências federais, a renda universal básica, inicialmente aprovou medidas para acabar com a discriminação sexual e de raça, tendo apoiado até ações afirmativas e cotas. É importante lembrar os republicanos rockefellerianos que defendiam o planejamento familiar, as legislações protegendo o meio ambiente e os direitos civis. Além disso, existiam feministas republicanas (ERA: Equal Rights Amendment), que defendiam o direito ao aborto, ações afirmativas e um financiamento federal para o cuidado de crianças.


Esse quadro, bastante interessante e até estranho ao brasileiro médio, sobretudo para a esquerda que odeia o Partido Republicano e não conhece as diferentes vertentes conservadoras.


Quando a chamada Nova Direita (New Right) surgiu, eles fundaram várias organizações, institutos e think tanks. Dentre eles, está a The Heritage Foundation — conhecida pelo Project 2025 —, o The Committee for the Survival of a Free Congress e o The National Conservative Political Action (NCPAC). Eles defendiam hma moralidade tradicional, condenavam as mudanças sociais, sexuais e de gênero que surgiram após a segunda guerra mundial. Defendiam os valores da família tradicional, sendo evangélicos conservadores ou brancos cristãos fundamentalistas.


Um dos fatores centrais para a vitória neoconservadora foi a Electronic Church de Pat Robertson (Christian Broadcasting Network). Ali existia uma rede de televangelistas que tinham alguns focos e pautas. Eles condenavam a segunda onda do feminismo e a liberação gay. Acreditavam que a segunda onda do feminismo era anti-família, anti-criança e pró-aborto. Além disso, houve quem equiparou a homossexualidade à pedofilia.


Reagan conseguiu se eleger como a figura da Nova Direita (New Right), trazendo o neoconservadorismo para o mainstream, unindo diversas facções do Partido Republicano, energizando o tradicionalismo moral e terminando com a coalizão do New Deal.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Contos e Crônicas de um Cotidiano (In) comum

 

  E é com muito gosto que  eu, Clarice L. M., agradeço o espaço aberto pelo Cadáver Minimal. Com isso, poderemos assistir juntos aos desenrolares das tramas na série Contos e Crônicas de um Cotidiano (In) comum, onde o cotidiano se mostra não só ele como um todo, mas que também respira, observa, age e nos suga, instiga, e nos obriga a seguir por essas andanças 'desbundadas' que chamamos de sobreviver. 
Acontece que a existência é uma desgraça que nos é dada como uma dádiva  feita por Força Maior mas, na real, é apenas um selo obrigatório que nos e forjado sem nosso consentimento, nos fazendo viver e sofrer para, dessa forma, encontrar sentido no sofrimento. E é seguindo esse jeito niilista  e puramente brasileiro de ver as coisas que nossos camaradas vão nos guiando. 

  Bem, caro leitor, creio que pouco lhe importa quem é essa pessoa que lhe escreve, mas creio que há de ser de muito gosto para seus olhos e mente o que escrevi aqui. Talvez tenha 'escrevido' com tal carinho, ou como quem sangra tinta. De certo, deixo os entendimentos com você.

Boa leitura. Ou nem tão boa assim. 


‘’Remendado”


Capítulo 1: Quid pro Quo


—  Já vou, deu 18H já. Amanhã venho mais cedo, seu  Ruy. Fica na paz. 

—  Falou. Até amanhã. ‘Tamo’ junto!

 

Ouço as palavras daquela figura, e bato meu ponto. Desço as escadas, e alcanço as pedras da calçada desgastada. Ventava bastante, e as demais lojas do calçadão já estavam fechando-se.


 E, assim, eu encerrava mais um dia de trabalho numa fábrica de tecidos em Duque de Caxias.


Numa dessas noites abafadas do verão da Baixada Fluminense, me peguei deitado no chão do quarto encarando o teto. Meu dia havia sido cansativo e, na noite anterior, mal preguei os olhos para uma boa soneca. Andava eu, dessa forma, vivendo de forma autômata: casa/emprego – estudos–  emprego/casa. Pensar em um relacionamento se tornou algo incomum para mim, visto que as pessoas se tornaram mais exigentes e, no mercado, o meu modelo ultrapassou. No emprego que eu nunca quis, me paga razoavelmente bem; suficientemente bem para sobreviver – afinal, o nome é salário mínimo por isso. Se fosse salário máximo se chamaria Subsídio Parlamentar. 


 Eu sou um alguém de 27 anos; estudante, sozinho, trabalho como almoxarife em uma fábrica de tecidos,  cansado da minha própria essência e cheio de perguntas. Nas horas vagas, escrevo coisas – tais como esse relato do emplastro de impropérios que é o que chamamos de vida. Ao meu ver, claro; não faça de minhas palavras as suas, o que uma pessoa louca diz não se escreve, é o que dizem por aí. O que chamam de loucura, chamo de enxergar além da bolha que nos rodeia cronicamente. Noutro dia, em minha rotina diária de retorno para casa no ônibus Caxias-Magé, o motorista teve de parar pois – vejam só; um idoso fumava no banco dos fundos e ‘’não sabia dessa proibição’’ – o que atrasou a viagem em 36 minutos apenas por conta das negativas do mesmo em apagar o fumo, ou deixar o veículo. Haviam placas, avisos, etc. E o nosso saudoso senhor resolveu-se por ele mesmo que era de bom tom acender o bendito fumo… Ao fim das contas, apagou o fumo e… desceu um ponto depois. Enfim, casos do acaso.


Observando esses pequenos atos, vejo que nada sei da vida. Atitudes, falas, lugares. Porque as pessoas se permitem levar pelas emoções? Falando assim, até parece que não sou um humano, não é, caro leitor? Tenho endereço, mas minha alma não tem CEP. Mas o fato é que intriga-me a vida; com ela, tive as mais diversas prosas acerca do existencialismo:


– E o que fazer quando se sente uma dor que uma aspirina não cura? Basta chorar? Basta que eu inunde minha alma com minha dor, e lave minha pele com as lágrimas que produzo ao exaurir de minha existência todas as lamúrias que me assolam? Devo deixar que meu corpo reverbere meus sentimentos? Ah, se eu quisesse ficar triste, estaria lendo Schopenhauer – ou apostando na bolsa de valores.


 A verdade é que eu sou uma pessoa sem passado, e não me importo.  Por muito custo, trabalhei meu cérebro para que ele me fizesse lembrar apenas dos bons momentos da minha existência desde então; os resultados foram que apenas tenho vagos destes flashes e, em um desses, eu era recebido com um sorriso por um rosto feminino. Vendo tal face, tentava eu então sorrir e retribuir o gesto, mas eu só chorava. Não conseguia falar nem me mexer por conta própria, mas eu estava feliz. Foi o único momento da minha vida em que senti a felicidade verdadeira, sem sofrimentos, sem dor. Acho que é por que eu tinha acabado de chegar, e não me explicaram o que ocorreria após aquele primeiro choro.

Creio que, na próxima vez que eu sentir tais sentimentalidades, será em meu leito final, com um verme que me narra ao pé do ouvido minha vida para, ao fim da estória, me roer da carne aos ossos. 


Mas, ah… Esses não são assuntos niilistas ou depressivos, não… 


Prezado (a), busco aqui esclarecer o que levaram aos fatos da minha prosa, da minha narrativa. Aos fatos que se sucederam, devo afirmar que foi de uma total falta de decoro do Destino. 


 Em primeiro, venho de uma família cheia de percalços e ignorâncias. Minha mãe teve filhos cedo, e achou ser de bom tom ter mais filhos para segurar o relacionamento com seu primeiro esposo, meu finado pai. Mal sabia ela que ela estava apenas produzindo herdeiros de sua pobreza geral. Após suas desilusões, casou-se com meu padrasto, e teve mais dois filhos, as joias de sua coroa. Após isso, foram muitas águas a rolar nos rios da vida e, eu, marinheiro de primeira viagem,  entrei de bucha nessa empreitada que chamamos de ‘’viver’’ – e sem bote, sem  saber nadar. Já fui muito traído: Há, há! Se o chifre fosse dinheiro, seria eu uma criatura abastada! Eu apenas tiro risos desses casos, pois de nada me adianta remoer essas coisas. Mas também traí. Tão pouco quanto acho que deveria, mas… enfim. Não me cabiam mais e, nas épocas, não estavam sob meu controle. Nada nunca está sob controle. Não temos controle de nada, afinal. 


 Por exemplo: minha amiga da escola, Eloísa, tem 27 anos, como eu, e vem de uma família que também não tinha a estrutura familiar sólida, tampouco a estrutura educacional. Ela foi expulsa de casa pela mãe  e vivia sendo perseguida pela mesma, e viveu com seu primeiro namorado dos 16 até os 24. Nesses tempos, separaram-se e ela teve um filho fora do relacionamento. Depois dessas idas e vindas, teve mais um filho com seu primeiro ex… separou-se e agora vive com seu terceiro ‘’amor’’.  Ela é a prova viva de luta, sucesso e retrocesso. Contando mais sobre essa bela amiga, após muito sofrer em sua humilde vida, voltou a estudar – coisa que havia deixado para trás desde seus 14, que foi quando sua mãe a expulsou de casa. Estudou, formou-se no ensino médio e conseguiu a bolsa de estudos que tanto havia tentado… tudo parecia perfeito. Exceto pelo fato de que caiu em um imenso ócio, a levando a viver de bicos: desde trabalhos simples  aos mais elaborados. Às vezes, me pede dinheiro emprestado, quase implorando. Ela não está assim por falta de oportunidades, mas por sabotagem da vida e da sociedade.


Dia desses, vinha eu pelo meu caminho quando resolvi ir até sua humilde casinha para tomar um café e ver como anda sua vida. Caminho pelas ruas de terra batida, e paro em frente ao seu portão. Chamo, e pouco tempo depois, ela me atendeu com um sorriso. 


– Boa noite! Entra, vou passar um cafezinho. Tá quente, né? Entra aí, senta na varanda. 


Ela me cumprimentava com felicidade; poucas das visitas que ela recebia eram da agente de saúde do postinho e minhas. Assim como eu, ela era sozinha no mundo – não por ser ‘’sozinha’’, mas por não ter os totais apoio e visibilidade que merece. Sento-me na varanda, e observo enquanto ela retorna, e senta em uma cadeira em minha frente.


– O outro está no quarto, as crianças estão vendo TV. Colei o ABC nas paredes do quarto deles, é bom que, dessa forma, vão aprender um pouco vendo as imagens. Vão ficar curiosos e vão querer saber mais e… 


 Ela iniciava sua fala enquanto acendia um cigarro feito de tabaco e maconha. As olheiras em seus olhos lhe davam uma estranha beleza, e seu sorriso amarelo era tal como o de Gioconda. Pela forma com que seu corpo se comporta na cadeira, é de bom tom afirmar que está há algumas boas horas sem dormir – o que lhe era comum desde a época de nossa mocidade, tendo em vista que são anos de amizade com tal criatura e acabei reparando, em todos esses anos, em seus trejeitos. Convivência é isso. Eu dou um gole seguido de outro no café, que já estava morno, enquanto ela me contava suas novidades com alguma empolgação. Dando uma pausa para respirar e falar entre uma tragada e outra, ela se  levanta, e vira-se em direção à cozinha para pegar mais café.


– Já volto, fuma um cigarro também. E, quando eu voltar, você me conta suas novidades. Eu só falei até agora, e você apenas escutou. 

– Sou um bom ouvinte, não gosto de interromper ninguém enquanto a mesma fala, você sabe. Disse-lhe, lançando um sorriso sonso em sua direção enquanto sigo seu ‘conselho’ e acendo um cigarro.


– Você sempre foi esquisito. Bem, já volto. Ela se vira, e some através da porta. E apagando as luzes ao passar pelos cômodos, encostou a porta da cozinha ao sair, retornando com mais cigarros de maconha e café. Ao que parece, teríamos uma longa conversa. Ah, não que eu não goste de uma boa prosa, fora que o clima está ótimo pra isso.


– Pelo visto a conversa vai ser boa. Falo, sorrindo, ao notar sua aproximação. Ela senta novamente na cadeira de praia, e acende um cigarro. Bebe um grosso gole de café e, por fim, desaba:


– Estou cansada de lutar por um bem maior, sabe? Tento ajudar, mudar o mundo e os meus problemas e, ao fim, retorno ao começo. Sinto-me tão forte, mas tão impotente ao mesmo tempo. O outro não gosta de conversar sobre os temas que estudei; geralmente ele leva um assunto como culinária, sociologia e comunismo para o lado pessoal. Tudo o que se fala sobre quaisquer temas tem de se filtrar, pois ele se sensibiliza á ponto de afetar nossa convivência. Ou seja: casei-me com um indivíduo sem um pingo de inteligência emocional. Eu converso sobre tudo um pouco, e ele não demonstra interesse algum, assim como a grande maioria.


Eu me inclino à frente e trago o cigarro, logo encho meu copo com café;


– E você, do jeito que é, já sabia bem o quão ignorante é aquele homem, e a sociedade em si também. Você bem sabe disso, não é cega. Hoje, no trabalho, seu Ruy veio comentar sobre o tal novo zagueiro do Flamengo, sendo que estou eu pouco me lixando para o futebol e seus ‘‘heróis’’ – ouvia e concordava apenas para não perdurar o assunto, caso expusesse minha devida e real opinião acerca do mundo futebolístico. A sociedade é assim:  exaltam algo que não irá mudar em nada as suas vidas, e sensacionalizam os que ainda possuem o mínimo de consciência de classe, do lugar de onde veio e para onde vão. Por fim, nosso país é um retrato de insoberania –  de futilidades, de uma massa emburrecida, vilipendiada, ignorante e entorpecida pelo boçal, drogados pelas grandes mídias e pelas culturas de retrocesso. Uma nação completa sofrendo lavagem cerebral em simultâneo, silenciosamente. 


Ela suspira, e traga mais uma vez o cigarro. Estica as pernas e engole o resto de café frio da velha caneca de alça quebrada que segurava:


– Deus, perdoai-nos. Não sabemos o que fazemos mesmo com o óbvio estando tão claro diante de nossos olhos. Mesmo com toda a clareza, fazemos o velho quid pro quo. 


 Seguimos nossa conversa afiada acerca da sociedade e da vida até umas 23h e pouca da noite, que foi quando achamos de bom tom irmos cada qual para seus cantos e, assim, tentarmos dormir enquanto idealizamos uma sociedade sem tanto proselitismo e hipocrisia velados de ajuda e complacência (...).





Continua na próxima Terça-feira, às 23h.


Acabo de ler "Woe unto you, Lawyers!" de Fred Rodell (lido em inglês/Parte 1)

 


Nome:

Woe unto you, Lawyers!


Autor:

Fred Rodell


Para cada era, uma autocracia pseudointelectual.


Fred Rodell começa o seu livro afirmando que, no tempo de hoje, quem controla a civilização são os criadores e interpretadores do Direito. Eles fazem isso tornando o Direito de difícil interpretação, levando o afastamento do povo comum para com a lei. O que torna a população dócil e, ao mesmo tempo, dependente dos advogados e dos juízes.


O homem comum tem medo do desconhecido e da polícia. A lei é uma grande desconhecida para a maioria das pessoas. Não obedecê-la pode levar à prisão. Graças a isso, o homem comum aceita os praticantes da magia moderna: advogados e juízes.


Todo aquele que trabalha com o Direito tem algo a vender. O que o vendedor do Direito vende não é outra coisa se não o próprio Direito. Não há competição nessa esfera, todos dependem da lei e todos são obrigados a cumpri-la. Logo é um produto de venda obrigatória.


Para tornar a interpretação da lei quase mística, enchem o Direito de jargões, tornando-o difícil para uma mente destreinada. Aqueles que não compreendem o Direito são incapazes de lerem logicamente as suas abstrações.


A questão central é: como algo que todos devem se lidar no dia a dia foi tão obscurecido para as massas? Isso afasta o ordinário modo de se pensar do processo mental daqueles que se lidam ou constroem o Direito. Não é só a adesão de termos em latim, nem tampouco o jargão que aparece multiplamente como tiros de uma metralhadora de letras, mas um jeito estranho de se pensar, uma magia mental, uma arte de manipulação de palavras — sempre de um jeito diferente — e a criação de palavras mágicas.

domingo, 21 de setembro de 2025

Sociologia Iuris #6: a Quantificação da Lei

 



Existe algo chamado "estrutura social do caso" e essa pode ser medida pelo status social. Como vimos anteriormente, grande parte da lei não explica os resultados da própria lei. Visto que a interpretação da lei pode ser variável e de acordo com os diferentes jogos e dinâmicas sociais.


A quantificação da lei é variável de acordo com a quantidade de recursos que a pessoa tem. Existe, evidentemente, uma distribuição vertical de pessoas e, não por acaso, um conflito entre a classe alta e a classe baixa.


As diferentes fontes do status social são:

- Riqueza;

- Cultura;

- Integração;

- Organização;

- Respeitabilidade.


Pessoas ricas possuem alto status social e pessoas pobres possuem baixo status social. Quando duas pessoas ricas estão em um caso judicial, podemos chamar esse caso judicial de alto. Quando duas pessoas pobres estão em um caso judicial, podemos chamar esse caso judicial de baixo.


A participação social também dita muito do processo. Ela é concebida a partir do quanto uma pessoa está inserida na vida social, o quanto ela está envolvida em um networking e em instituições. Aqui podemos delinear aqueles que são socialmente marginalizados e aqueles que são altamente integrados na sociedade.


Fora isso, grupos aparecem em diferentes disposições. Isto é, cada grupo possui capacidade de ação coletiva, mas o escopo de sua ação é delimitado pelo o seu grau de organização interna. Grupos mais organizados usualmente possuem status social maior.


A reputação de uma pessoa também dita o seu caso. Elas são julgadas se são tidas por virtuosas ou desviantes.


Fora isso, sabe-se que pessoas ricas usualmente vão mais à corte. Logo possuem um envolvimento judicial maior. Enquanto pessoas pobres apresentam um envolvimento judicial menor.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Acabo de ler "Patchwork" de Mencius Moldbug (lido em Inglês/Parte 4 Final)



Nome:
Patchwork: A Political System for the 21st Century

Autor:
Mencius Moldbug


Mencius Moldbug faz nesses capítulos algumas críticas ao pensamento de Kant, fazendo algumas ressalvas a própria crítica: a democracia daquele período estava longe de ser a democracia que conhecemos hoje. Kant, segundo Mencius Moldbug, acreditava na razoabilidade dos eleitores e que eles votariam em candidatos razoáveis para governar. De qualquer forma, esse republicanismo seria igual a responsabilidade.

De fato, a democracia mudou muito graças as mudanças pensamento que foram acontecendo. O pensamento moderno, segundo Mencius Moldbug, é derivado do ecumenismo protestante. Esse ecumenismo se transforma em um universalismo, adentrando em uma espécie de neopuritanismo laico. Creio que quem leu o livro de Nick Land — ou as análises anteriores em que analisei um livro de Nick Land — poderá entender melhor a referência.

Voltando ao cerne do argumento, Mencius Moldbug pensa na paz reacionária pensando em paz, segurança e ordem. Para garantir isso, os territórios controlados por companhias soberanas teriam como foco os ganhos financeiros e não em trazer guerras altamente custosas. Para prevenir guerras, elas temporariamente investiriam em mecanismos de exércitos privados para se defender de um território hostil.

Segundo o raciocínio de Mencius, grande parte da irracionalidade moderna — e a razão das guerras — é a desvinculação entre a economia e a condução das escolhas políticas. O Estado, por meio da democracia, vai priorizando cada vez mais pautas economicamente irresponsáveis. A guerra seria resultado natural dessa deturpação. Territórios focados em responsabilidade financeira não tomariam escolhas tão imprudentes.

O final, admito, ficou meio vago.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Acabo de ler "Patchwork" de Mencius Moldbug (lido em Inglês/Parte 3)

 


Nome:

Patchwork: A Political System for the 21st Century


Autor:

Mencius Moldbug


O melhor governo é um governo responsável. Muitos consideram que essa responsabilidade é alcançada pela democracia constitucional, já que essa resultaria, em última instância, em uma responsabilidade moral. Mencius Moldbug defende uma ideia neocameralista: uma companhia soberana, um governo privado com responsabilidade financeira em vez de responsabilidade moral — ele define essa forma de governo como amoral.


Nesse capítulo, além da usual série de piadas que já estamos acostumados a ver o Mencius Moldbug fazer, ele também fala da ascensão do Estado de Bem-Estar Social. Ela ocorre no século XX quando o Estado capta uma das principais funções da Igreja, a caridade. E ele (o Estado) consegue fazer essa caridade com base na taxação. Em meio a isso, o Estado torna-se o senhor da caridade, mas também o senhor da justiça que trará tudo, tornando-se a Igreja de Todas as Coisas. Quanto mais o tempo passa, mais pautas são pautadas pelo o poder do Estado — que não admite concorrentes.


Mencius também fala um pouco acerca da democracia americana. Os três grupos da democracia americana podem ser definidos como os tribais, os populistas e os institucionalistas. Os tribais se movem por lealdade, experiência compartilhada e senso comum. Os populistas acreditam no sistema, mas não sabem como ele funciona e acreditam em coisas que são impossíveis dentro do sistema. Os institucionalistas acreditam na democracia, mas sabem como sabotá-la para que as suas pautas sejam aplicadas, pouco importando se isso fere o anseio democrático.


É interessante que se você possui organizações que funcionam do modo que você quer que funcionem independentemente do processo democrático auferido em uma eleição, você pode facilmente criar instituições — muitas vezes não percebidas pelos eleitores médios — que favoreçam os seus interesses independentemente do que ocorra. Se infiltrar e controlar essas instituições, criando um modelo de dominação econômica e cultural, é mais favorável do que ficar buscando eleições, visto que elas são voláteis. Além do mais, dominar instituições pode ser útil para vencer eleições. 


O que é interessante notar aqui é que, nos Estados Unidos moderno, o Project 2025 foi arquitetado para atacar os aspectos institucionalistas usuais. Visto que esses aspectos se correlacionam a Catedral (entendida aqui na acepção neorreacionária do termo, isto é, o networking institucional progressista que aparece na educação, nas universidades, nas ONGs, nos jornais). A direita americana conseguiu rastrear e mapear as ações de várias organizações institucionalistas e está tentando reverter e desmantelar os seus quadros. Se serão extremamente bem sucedidos nisso, ainda não se sabe.


É interessante comparar a análise da Catedral do Mencius Moldbug e as ações do Project 2025 na América moderna.